quarta-feira, 12 de abril de 2023

Um ateu no avião

Um mero descrente  

Perde parte da existência  

Refutando questionamento 

Sobre sua preferência 

 

Da única vida que acredita  

Deve responder sem ironia  

O que sua alma faria  

Na fatídica hora maldita 

 

Uma gargalhada de criança 

Um orangotango esperto 

Uma rosa no deserto 

Um amanhecer de esperança 

 

Com inspirações tão comoventes  

Não seria mais inteligente  

Indagar o ímpio herege 

Com um indício que se preze?  

 

Entre a treva e a comédia  

Escolher pela tragédia 

Não somente é um equívoco   

Quase beira o ridículo 

 

Por incompetência persuasiva  

O ateu pede perdão  

E reflete em queda livre 

Se o sentido da catarse  

É o crer na aeronave 


Em memória póstuma  

Deixará em manuscrito  

Um poema em redenção 

Contestando o erudito

 

É propósito divino

Incitar a desavença

Do Senhor contra o menino

Que não quer crê em salvação?

 

Não seria hipocrisia  

Alguém ser convencido

Mesmo à revelia

Que será o escolhido?

 

Por que que Diabos é repetido  

Para contrapor uma descrença 

Que Deus prova onipresença 

Só na queda do avião?