sábado, 20 de agosto de 2016

Aquele menino

Não pode ser normal
Achar comum
Um menino de olhar triste
Pedir comida e um trocado

Na cabeça de quem tem fome
Pouco importa se a ajuda
Vem do meu bolso
Ou do Estado

Desconcertar o favelado
É supor que saibamos
O porquê de suas mazelas
E a razão dos seus pecados

Quiçá um dia
Seja permitida a presunção
De lacrimejar solução
E não chorar utopia                              




domingo, 24 de julho de 2016

Tentando ser

Tenho a capacidade única de ser eu, no meu melhor e pior momento. Sei ser eu como ninguém. Principalmente quando disfarço ser outro. Por isso tenho sido cada vez mais indiferente quando alguém não entende o meu jeito ou minhas atitudes. Ou mesmo, quando outros têm a certeza que eu estou sendo eu, quando estou sendo irônico. Eu tenho sido pretensiosamente outro, mesmo contra minha vontade. Ora por não ter certeza que alguém não me queria bem como eu sou, ora por não achar que deva me dar por mim para quem me esconda o interesse. Sou vários em um. Não sei bem quando meus eus confundem-se em mim e numa brincadeira heterônima batizam-se com outros nomes para dar vozes às personalidades tão distintas. Sou de vários e de nenhum. De vários momentos, vários pensamentos e vários tanto faz. Tenho certeza que tudo vale o esforço agora que já passou essa vontade de ter tudo que não tenho mais certeza de nada. E não quero nada além de mim ao meu lado. Ouço mais. Digo cada vez menos de mim para àqueles que nada demonstram vontade em querer o meu eu mais eu. E fico volúvel. Invento interesses e depois me interesso por eles. Pelas pessoas. As quero perto e longe. Manter contato e saudade. Esquecer para lembrar. Ter para não ter. Ser de mim para ser do outro. Ser eu para querer ser mais outros em um só.