domingo, 14 de outubro de 2007

O inusitado e o premeditado

O premeditado fica abismado só de imaginar que o inusitado deixou acontecer como tinha de ser. O inusitado ao ser indagado: “Por quê?”, apenas disse: “Não sei, aconteceu”. E isso foi assunto para incontáveis panos que jamais resultaram em uma manga sequer. Entre ambos, permanecem divergências quase eternas que percorrem a vida destes personagens tão freqüentes em dúvidas que sempre nos assolaram. O inusitado caminha sem saber se a pedra de Drummond estará no meio caminho, enquanto o premeditado não sabe se desvia, se avisa, se chuta, se vai, mas sabe o que há e o porquê de talvez evitar.
Os mistérios do beijo do inusitado é descoberto no percorrer da língua, o desenrolar da história fica pra depois do que acabará de acontecer, se é que irá acontecer, por outro lado, o premeditado sabe qual história merece um findar digno de filme e qual o motivo do pequeno conto jamais tornar-se uma história. O premeditado questiona a todo o momento como se pode opor ao pensamento, de cometer e depois fazer um pós-julgamento, de não se evitar a lágrima de lamento. O inusitado, aparentemente inocente, diz que pensa, mas pensa no exato momento, que o cometer pode ser comedido e que, por fim, acha que o pós é conseqüência lógica de tudo, até do preestabelecido. O premeditado sabe que tudo isso já deveria ter sido escrito, para que gerasse um conflito, e assim, transformar o inusitado em mito. Em conseqüência do destino, o inusitado perguntou: “Se era pra acontecer mesmo, por que hoje? Talvez não haja uma razão, talvez alguém que não esteja na história precise saber”.