quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Reticentemente

Três pontos despretensiosamente enfileirados
Reticentam uma esperança
Sabem o que querem dizer
E intencionalmente desdenham de sua importância
Travessos, chacotam ao que se propõem
Quando omitem o não dito
Escondem-se atrás das entrelinhas do subentendido
E tornam seu significado mais erudito

A divindade dos poetas  
É religiosamente materializada em palavras nuas
Após algumas doses de rima
Despe-se sem vergonha
Psicografa versos sinceros
E faz charme proposital
Para o pronome possessivo

Seres do acaso gramatical
Dormem ao relento
Cochilam no ombro de uma inocente vírgula
Que muda todo o rumo da ortografia celestial
Entre os delírios de sonhos imperfeitos
As orações permanecem sem sujeitos

Vil escritor trôpego e socialista
Que aprende a cada dia
Não julga porque vacila
Não caminha com os pés alheios
Não adivinha a intenção do autor
E mente, evidentemente
Mas sabe que o sabor do pecado da maçã
Faz paraíso nas entranhas da serpente