Quando algo acontece com meu
menino a culpa é minha por não ter acontecido comigo, mesmo quando todos digam
que a culpa não foi minha. A culpa é minha por tudo de ruim que acontece a ele,
porque quando ele nasceu eu inventei a regra que só eu posso proteger. A culpa
é minha de não querer escutar que excesso de zelo é castigado pelo mundo. Dane-se
esse mundo chato e cruel, que é visto pela ótica do maldizer. Dane-se esse
mundo que ensina os sensatos teóricos como uma criança deve ser criada. Meu
menino recebe amor imperfeito bem intencionado. Meu menino cresce malcriado aos
olhos alheios, mas recheado de paternidade amorosa. A dor do meu menino dói em mim
mais do que qualquer chaga, mais do que qualquer dor. É a dor sentida através
da carne que foi concebida por mim. Meu menino é meu porque eu quis e porque eu
quero. Ele certamente não me escolheria de progenitor. Ele certamente não
escolheria um imperfeito. Meu menino é meu por um querer meu. Meu menino só
poderia ser um, só poderia ser ele, só poderia ser Caetano. O menino que
cresceu como ele é e será, sempre será o menino que eu sempre quis ter. Porque
eu aceitarei, sempre, o que ele quiser ser. Quero meu menino não como uma extensão
dos meus erros, mas, tão somente, como uma parte dos acertos que tentei durante
a minha vida. Quero um menino poesia-tropicália-bossa nova, mas sempre
aceitarei o menino que não queira o que eu quero. Quero que o menino vire o
homem melhor que eu. Quero ele tão somente como ele é, até mesmo quando ele não
se aceite. Faz parte do aprendizado. Talvez seja esse o significado do amor.
Talvez. Porque esse amor, que passa de mim para quem veio de mim, eu não sei
explicar. Talvez nunca consiga. Talvez seja a certeza que eu não queira
enxergar. É o amor que briga e se arrepende no minuto seguinte. É a vontade de proteger
vinte e quatro horas por dia, mesmo sabendo que é impossível. É ouvir que você
é chato e querer continuar a ser chato. Meu amor pelo meu menino não arruma malas,
não se muda, não desiste e não desnuda. É o amor persistente. Sempre. Mesmo quando
eu brigo, mesmo quando ele vira os olhos, mesmo quando os dois dedos
indicadores se encontram em ponta, indicando que estamos de mal. Meu coração está
de bem. Por dentro fica dilacerado, pois quero brincar com meu menino e quero
ver sorriso com covinhas. Meu menino não sabe, mas quando me chama de papinho minha
energia renova, recarrega por mais alguns dias e reconsidera meus erros com
intuito de acertos. Meu menino é para mim a vontade de acertar (equivocada)
materializada em outro corpo. Um erro. Meu menino deve ser a conjunção do que
absorve de experiência, não só de mim, mas desse mundo chato, cruel e louco,
mesmo que na minha percepção mais egoísta, ele seja só meu.