A poesia das coisas está em tudo. Críticos vorazes
apequenam-se na rigidez do julgamento ao tachar que o poeta é menos poeta
quando rima o clichê amor com dor. Quem somos nós para dizer o que é certo no
mundo das incertezas? O poema triste não fará do poeta fingidor um falso
melancólico. Um poema pode ser chato quando se dodecassílaba só de implicância.
Somente para fazer birra Alexandrina com palavras simples que não se sonetam.
Não julguemos o poeta, pois a poesia não escolhe atravessadores baratos, não
credencia o autor inapto, não incorpora notáveis, não impede a ressaca, não
destitui o amor. A poesia não tem o que a poesia não é. Poesia é eclesiástica mesmo
na dança ritmada do cabaré. É fruta suculenta que une e lambuza os corpos na
hora do prazer. A poesia é bendita. A poesia quando está por baixo da saia da
mulher bonita, sussurra, nunca grita. Poesia é poder equidistanciar a desconfiança de Bentinho com a emoção de comemorar
um gol do nosso time. A poesia é falada, cantada, visual e olfativa. De que
forma importa? Poesia é o todo do tempo no exato momento que cisma em ser.
Poesia está no braço pequeno do meu pequeno quando me abraça, involuntariamente,
enquanto dorme. Poesia é Quintana disfarçado de Deus. É criador e criatura. É banho
de sal grosso no corpo que tempera a pele só para proteger. É sinal de
crucifixo antes de sair de casa, é mandinga para o amor que já foi, é café com
leite de manhã bem cedinho. Poesia é Vinícius tatuado no braço, Caetano
impregnado na vida, Chico na recaída, suor frio na dor de barriga, moeda
contada na padaria, vontade de chuva na hora da febre e dedo na boca quando há sangue
no corte. Poesia é ser forte. Poesia sou eu, prendendo você, na simples vontade
de chegar até aqui insistindo em me ler.
terça-feira, 27 de junho de 2017
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017
Boas intenções
Tenho más notícias.
Vou adoecer...
Minha vida amorosa será instável
Brigarei com alguns amigos
Terei vontade de largar a lida
Perderei entes queridos
Vou morrer...
...ainda nesta vida.
E não será por vontade alheia que
Padecerei no paraíso
Surgirão minhas mazelas
Perderei o juízo
Ou emergirão as querelas
Tudo que de ruim me acontecer
Será causa, motivo, destino e defeito
De ser humanamente imperfeito
Porém, rogo aos poetas
Que ao contrário do ódio
A candura da ode
(Independentemente da fé)
Transcenda-me em pétalas
Em jardins de lirismo
E bondade egoísta
De só florescer bem me quer
domingo, 1 de janeiro de 2017
Poeira
As pessoas passam
Feito um furação
Que devasta tudo sem culpa
Recompor-se é mais que obrigação
As pessoas que passam
Deixam um rastro de poeira
Umas se infiltram nas veias
Outras são nuvens ligeiras
O horizonte que era nítido
Agora tem um quê de incerteza
O comodismo de reclamar
Dá lugar a probabilidade de não haver queixa
As pessoas continuam passando
Sem pedir permissão
Faz-nos empurrar a sujeira da pessoa anterior
Para debaixo do tapete da nossa razão
Borboletas traiçoeiras surgem
E pousam nas pessoas que estavam de passagem
Feito feitiço que transforma em ficar
O que é de partir
Novas pessoas finitam o
passar
Permanecem de...va...gar...
E vão ficando...
...com vontade de ancorar
O tempo não volta
Portanto, nada se repete
Nem o desperdício da vida
Ou incerteza do momento da morte
E isso é sorte
As pessoas que foram
Podem voltar
Em momentos distintos
Por razões improváveis
Ou motivos banais
Enquanto o tempo escassa
Devemos voar sem rumo
E virarmos poeira por onde passamos...
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