A poesia das coisas está em tudo. Críticos vorazes
apequenam-se na rigidez do julgamento ao tachar que o poeta é menos poeta
quando rima o clichê amor com dor. Quem somos nós para dizer o que é certo no
mundo das incertezas? O poema triste não fará do poeta fingidor um falso
melancólico. Um poema pode ser chato quando se dodecassílaba só de implicância.
Somente para fazer birra Alexandrina com palavras simples que não se sonetam.
Não julguemos o poeta, pois a poesia não escolhe atravessadores baratos, não
credencia o autor inapto, não incorpora notáveis, não impede a ressaca, não
destitui o amor. A poesia não tem o que a poesia não é. Poesia é eclesiástica mesmo
na dança ritmada do cabaré. É fruta suculenta que une e lambuza os corpos na
hora do prazer. A poesia é bendita. A poesia quando está por baixo da saia da
mulher bonita, sussurra, nunca grita. Poesia é poder equidistanciar a desconfiança de Bentinho com a emoção de comemorar
um gol do nosso time. A poesia é falada, cantada, visual e olfativa. De que
forma importa? Poesia é o todo do tempo no exato momento que cisma em ser.
Poesia está no braço pequeno do meu pequeno quando me abraça, involuntariamente,
enquanto dorme. Poesia é Quintana disfarçado de Deus. É criador e criatura. É banho
de sal grosso no corpo que tempera a pele só para proteger. É sinal de
crucifixo antes de sair de casa, é mandinga para o amor que já foi, é café com
leite de manhã bem cedinho. Poesia é Vinícius tatuado no braço, Caetano
impregnado na vida, Chico na recaída, suor frio na dor de barriga, moeda
contada na padaria, vontade de chuva na hora da febre e dedo na boca quando há sangue
no corte. Poesia é ser forte. Poesia sou eu, prendendo você, na simples vontade
de chegar até aqui insistindo em me ler.
terça-feira, 27 de junho de 2017
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