sábado, 2 de agosto de 2008

Um qualquer

Um ser errante sem intenção de errar. Acho isso bonito. Errar um erro desimportante, um erro que seja só seu, que só atinja a si, um erro descrente, inocente, sem amém, sem além, um erro sem perdão. Porque não haverá quem o crive, pois não será notado, o erro será só seu, sem intenção. Um daltônico na mesa de bilhar. Ser um ser que não espera, nem o pior nem o melhor. Simplesmente um ser que não espera. Ser imperativo, hiper-ativo. Faça, diga, bata, tente, seja...Um Zé qualquer que não acredita que a dama de copas surja como mágica no baralho da cartomante. Um João amigo do Zé que critica a vã manifestação de fé. Que põe as cartas do seu próprio jogo e joga só por jogar, pois esse João ou Zé, erra, não espera, ele é. Não quer chamar atenção e nem dá atenção para o tipo de gente que o faz. Ele furta dos autores dos livros que ele gosta de ler, tudo o que lhe convém, tudo que lhe faz bem. Bate palma errada na roda de samba na pretensão de compassar, canta baixinho um sambinha antigo só pra ser mais uma voz. Só pra isso. Um sujeito desses que surge numa esquina, dá um gole de cachaça, observa a lua, ri dos bêbados transeuntes da madrugada e chora depois, sem motivo. Desconexo, sem alarde, sem intenção de errar e que tem a certeza que o baralho da cartomante não é mágico o suficiente para adivinhar a carta que o seu ceticismo embaralha na cabeça.

5 comentários:

  1. erro...
    o que é errar pra você? Eu acho que é tentar, às vezes se atrapalhar no querendo acertar... estamos sempre buscando a perfeição em tudo o que fazemos, em nós e nas outras pessoas... só que o perfeito não existe... e o erro, mesmo que sem querer, segue constante em nossas vidas...

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  2. Nossa... Impressionante. Visualizei totalmente o Zé. O Zé do rosto sem expressão que vivo analisando quando o meu ônibus faz parada na porta de um botequim.

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  3. Errar como quem erra...
    Como quem gostaria de acertar ou como quem errou de propósito, sem a intenção de machucar.
    Há os que erram por descuido.
    Porém há aqueles que erram por achar.
    Existem casos que quem erra é o destino.
    Pra um caminho novo a vida traçar...

    Ps:(adoro roubar o espaço do seu blog...rs)

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  4. Uma vez joguei sinuca com o Zé Daltônico.Impressionei-me com a leveza de um certo absurdo que, dada a situação, transmutou-se em risadas ricas de harmonia.Ele pode ser daltônico, mas enxerga com agudeza o cinza num mundo tão preto e branco e, quando as cores se apresentam, enriquecem sua singular representação.

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  5. Errar sem medo do que o erro possa provocar errar esse erro com intenção de acertar. O Zé ou João, daltônico ou não, também tem direito de jogar e errar, pode ser que algumas vezes eles vão acertar!
    “Que sejamos então o que a vida por equívoco rasure em nós, sejam eles erros ou acertos.”

    Simplesmente é grandioso o seu dom da escrita, não o perca nunca, adoro ler você!!!

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Comentários